4.5.08

Certezas

Certezas tenho poucas, mas esta é inexorável. Tenho a melhor Mãe do mundo!

E porque sei que ela gosta (e eu também):

Poema à Mãe

No mais fundo de ti,
eu sei que traí, mãe!

Tudo porque já não sou
o retrato adormecido
no fundo dos teus olhos!

Tudo porque tu ignoras
que há leitos onde o frio não se demora
e noites rumorosas de águas matinais!

Por isso, às vezes, as palavras que te digo
são duras, mãe,
e o nosso amor é infeliz.

Tudo porque perdi as rosas brancas
que apertava junto ao coração
no retrato da moldura!

Se soubesses como ainda amo as rosas,
talvez não enchesses as horas de pesadelos...

Mas tu esqueceste muita coisa!
Esqueceste que as minhas pernas cresceram,
que todo o meu corpo cresceu,
e até o meu coração
ficou enorme, mãe!

Olha - queres ouvir-me? -,
às vezes ainda sou o menino
que adormeceu nos teus olhos;

ainda aperto contra o coração
rosas tão brancas
como as que tens na moldura;

ainda oiço a tua voz:
"Era uma vez uma princesa
no meio de um laranjal..."

Mas - tu sabes! - a noite é enorme
e todo o meu corpo cresceu...

Eu saí da moldura,
dei às aves os meus olhos a beber.

Não me esqueci de nada, mãe.
Guardo a tua voz dentro de mim.
E deixo-te as rosas...

Boa noite. Eu vou com as aves!

Eugénio de Andrade

4 comentários:

Diabolous in Musicae disse...

As mãos e os frutos...gosto muito!

Ana disse...

Ainda bem q gostas! Mas quais mãos e frutos?... lol

Diabolous in Musicae disse...

Ah, sorry, é o título do livro de poemas de onde penso q esse poema vem, mas se calhar enganei-me, já não tenho a certeza. Mas olha...esqueçe lá isso, até pq mãos e frutos soa sempre bem de qq modo...:D

Ana disse...

Pois soa. Eu penso q tb faz parte de "Os amantes sem dinheiro", mas independentemente de fazer ou n, tb me soa bem ;-)