30.7.08

Da indefinição à constatação

Viver sempre também cansa!

Viver sempre também cansa!
O sol é sempre o mesmo e o céu azul
ora é azul, nitidamente azul,
ora é cinza, negro, quase verde...
Mas nunca tem a cor inesperada.

O Mundo não se modifica.
As árvores dão flores,
folhas, frutos e pássaros
como máquinas verdes.

As paisagens também não se transformam.
Não cai neve vermelha,
não há flores que voem,
a lua não tem olhos
e ninguém vai pintar olhos à lua!

Tudo é igual, mecânico e exacto.

Ainda por cima os homens são os homens.
Soluçam, bebem, riem e digerem
sem imaginação.

E há bairros miseráveis, sempre os mesmos,
discursos de Mussolini,
guerras, orgulhos em transe,
automóveis de corrida...

E obrigam-me a viver até à Morte!

Pois não era mais humano
morrer por um bocadinho,
de vez em quando,
e recomeçar depois, achando tudo mais novo?

Ah! Se eu pudesse suicidar-me por seis meses,
morrer em cima dum divã
com a cabeça sobre uma almofada,
confiante e sereno por saber
que tu velavas, meu amor do Norte.

Quando viessem perguntar por mim,
havias de dizer com teu sorriso
onde arde um coração em melodia:
"Matou-se esta manhã.
Agora não o vou ressuscitar
por uma bagatela."

E virias depois, suavemente,
velar por mim, subtil e cuidadosa,
pé ante pé, não fosses acordar
a Morte ainda menina no meu colo...

José Gomes Ferreira
8 de Maio de 1931

Imagem da primeira versão do poema.

28.7.08

24.7.08

Espalhem a notícia *

Ao chegar a casa, e tentando fugir ao tema dominante dos telejornais, vi parte de uma entrevista sobre o Islão e o Cristianismo. A voz do entrevistador era-me familiar, mas não havia maneira de o associar àquela figura sem pescoço e meio afundado na cadeira. Concentrei-me na voz e fez-se luz: o Nuno Rogeiro cortou o cabelo!!??

* o Sérgio Godinho que me desculpe, mas este post tinha que ter alguma coisa de jeito, o eleito foi o título.

Não é mito

Há mitos urbanos para quase tudo e eu sempre achei que aquela história de que os telemóveis desmagnetizam os cartões multibanco era apenas mais um.
Parece que não e para não haver dúvidas aconteceu-me duas vezes no espaço de uma semana.

Alguém me orienta uns trocos? :-|

23.7.08

Uma surpresa por dia, não sabe o bem que lhe fazia

Ontem passou aqui uma das minhas chefes, vinda de África e muito sorridente, perguntei-lhe se estava de férias, respondeu-me, na boa, que está com malária.

Acabei de vir de outro piso onde me deparei com umas cuecas em cima de uma mesa.

Já vos disse que isto é tudo muito estranho?...

Já ia novamente...





17.7.08

A banhos!


Banhos de mar, de sol, de ratazanas...
Mas será bom, certamente :-)

A Sombra do Vento

Em A Sombra do Vento, Carlos Ruiz Zafrón juntou vários estilos, do romance ao policial, da ironia à poesia, num turbilhão de peripécias que de página a página conquistam o leitor e o envolvem até ao desfecho inevitável, o fim. Ao terminá-lo sentimos que nos despedimos de uma série de personagens às quais nos afeiçoámos e temos a confirmação de que os livros ainda nos podem surpreender, sempre e cada vez mais.
O cenário é a Barcelona franquista e tudo começa num misterioso lugar, O Cemitério dos Livros Esquecidos, depositário de obras fantásticas. É sobretudo um elogio aos livros mas também um exemplo da extraordinária arte de contar histórias.
Na minha opinião, não há melhor sensação do que esta, a de que lemos uma história originalíssima, que nos envolveu, ora comovendo ora levando ao riso, e que vai deixar saudades.

16.7.08

Homens simplex

Ainda que não queira desenvolver muito este tema, não resisto a fazer uma breve comparação Homens/Mulheres, na sequência de um sms que recebi ontem.
As mulheres de um modo geral ponderam tudo muito bem, elaboram planos complexos para muitas vezes concluírem “ah não vale a pena sujeitar-me a isto”.
Os homens tendem a ser bem mais pragmáticos.
A mensagem era de um antigo colega de trabalho, com quem há largos meses não contactava, e dizia algo como: Olá! Estás boa? Por aqui está tudo fixe. Pensavas que me tinha esquecido de ti?! Não!!!! Então e amigas novas? Beijinhos X
E assim numa só mensagem consegue-se deixar todas as possibilidades em aberto. Ou não.

15.7.08

Maria Helena!

Tu estás lá!
O meu horóscopo de hoje diz: «Dinheiro: A sua vida financeira tem tendência para melhorar significativamente.»

É verdade, acabei de saber que já tenho médico de família!!!!!
(Sinto-me como se me tivessem dado uma jóia raríssima. Viva o SNS e os anos e anos que se está em lista de espera…).

13.7.08

Inveja

Há alguns dias fiz mil e uma buscas no google para encontrar um verso de Ary dos Santos, que achei que me acalmaria. A inveja invadira-me. Não vinha de mim nem me era dirigida, mas sentia-a de forma amarga e violenta.

Hoje acedi finalmente à obra completa do poeta (de facto, nada substitui os livros) e cá está ele

A Inveja

Não sermos nós a voz
o tacto
o texto.
Darmos cinco sentidos
para termos o sexto.

Ary dos Santos

11.7.08

Eu não quero um iPhone

Estarei doente?

Manchete em vários matutinos, largamente divulgado pela net, why?...

10.7.08

Um destes dias…

Mato o velho. Quais homens das obras ou arrumadores de carros, o meu trauma é mesmo com um velho com idade para ser meu avô, que todos os dias passa por mim, aproxima-se bruscamente e arfa umas merdas geralmente indecifráveis e que me deixa com uma enorme sensação de nojo.
Achei que conseguia controlar a situação discretamente. Ao fim ao cabo devia servir para algo carregar com uma mala que pesa quase tanto quanto eu. Pus o plano em prática, sempre que o avistava a vir na minha direcção projectava a mala, por várias vezes cheguei a acertar-lhe (o que provocava um belo espectáculo para os restantes transeuntes), mas infelizmente a violência não desmobilizou o velho e eu começo a ponderar andar de ponta e mola. Depois não digam que eu não avisei.

Update (11 de Julho): Hoje optei por insultá-lo, pelo menos desta vez ficou calado.

7.7.08

Morre lentamente

(Sem disposição para escrever, sobretudo devido à preocupação referida no post anterior, deixo um poema que só um dia destes conheci.)

Morre lentamente quem não viaja, quem não lê,
quem não ouve música,
quem não encontra graça em si mesmo.

Morre lentamente quem destrói o seu amor-próprio,
quem não se deixa ajudar.

Morre lentamente quem se transforma em escravo do hábito,
repetindo todos os dias os mesmos trajectos,
quem não muda de marca, não se arrisca a vestir uma nova cor
ou não conversa com quem não conhece.

Morre lentamente quem faz da televisão o seu guru.

Morre lentamente quem evita uma paixão,
quem prefere o negro sobre o brancoe os pontos sobre os "is" em detrimento de um redemoinho de emoções
justamente as que resgatam o brilho dos olhos,
sorrisos dos bocejos, corações aos tropeços e sentimentos.

Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz,
quem não arrisca o certo pelo incerto para ir atrás de um sonho,
quem não se permite pelo menos uma vez na vida fugir dos conselhos sensatos.

Morre lentamente quem passa os dias queixando-se da sua má sorte ou da chuva incessante.

Morre lentamente quem abandona um projecto antes de iniciá-lo,
não pergunta sobre um assunto que desconhece
ou não responde quando lhe indagam sobre algo que sabe.

Morre lentamente...

Pablo Neruda

4.7.08

Again

Ainda não acredito que o terreno daqui seja sagrado, mas que é prolifero em trevos de quatro folhas, lá isso parece ser. Não ando a chafurdar na terra, tal como da outra vez encontrei-o num vaso e na minha direcção, mas fiquei caladinha, não fosse ter o mesmo triste fim que o outro.
A tradição diz que dá sorte mas vale fazer pedidos? Se vale, cá vai: Caro trevo, a Casquinha (aka tartaruga) parece estar meio adoentada, agradecemos muito que seja passageiro e que a culpa seja do aquecimento global ou algo assim, eu já mal me lembro da minha existência sem ela :´-(

3.7.08

Acordar com boas notícias

Libertação de Ingrid Betancourt e de outros catorze reféns. Infelizmente, mais de quatro mil continuam em cativeiro.

2.7.08

Do mundo, da morte e de tudo o mais

Ontem no site do Público podia-se ver a morte em directo. Um vídeo horripilante e aparentemente atípico naquele jornal (dito não sensacionalista), que me fez pensar que aquele era um alerta e não uma forma de atrair leitores ao site.
Num hospital para doentes mentais, nos EUA, uma doente afro-americana jazia em plena sala de espera. Estava lá internada e tudo terá acontecido sob o olhar de funcionários e seguranças, que agiram apenas 45 minutos depois.
Os comentários ao vídeo eram os esperados, criticavam o sistema de saúde norte americano que condena à morte quem não tem dinheiro para assistência ou medicação, mas alguns diziam que por cá se passa o mesmo.
Sozinhos no meio da multidão, parece que é cada vez mais para isso que caminhamos, mas desta vez não consigo generalizar. As instituições de saúde mental em Portugal são poucas e em muitos casos (sobretudo as IPSS’s) estão mal apetrechadas, mas pelo que tenho visto a dedicação dos que nelas trabalham compensa, sempre que possível, essas lacunas. E não é de todo uma profissão fácil, nem uma realidade a que estejamos habituados, por isso talvez por cá aponte sobretudo essa falha, falta uma verdadeira inclusão social. Isso e capacitarmo-nos de que cada vez temos mais doentes mentais, e não deficientes mentais, o que creio que em muito se deve ao estilo de vida que temos.

Ao 9º mês (uma verdadeira gestação) conheci todo o espaço que me rodeia e consequentemente estes pensamentos assolaram-me.